Não poderia iniciar-se este artigo sem a ressalva de que não se pretende que
as linhas que se seguem sejam uma crítica especializada e de especialistas aos
espectáculos - concepção e apresentação -, mas tão só um olhar visto de uma
óptica que terá sido provavelmente a que mais vezes foi utilizada por quem
frequentou a 4ª Edição do Festival Materiais Diversos (FMD): a de um público
atento, apreciador, disponível e culturalmente desperto para as artes, os
espectáculos e todas as diferentes formas de demonstrar e promover a cultura.
Mais prolongado que em edições anteriores, a edição de 2012 do FMD,
estendeu-se ao longo de 3 semanas (14 a 29 de Setembro), optando por concentrar
nos fins-de-semana a maioria dos espectáculos e actividades. O formato manteve
as características intrínsecas assumidas desde a primeira edição e que se têm
vindo a consolidar de forma inequívoca. A grande novidade deste ano esteve
relacionada com a presença de vários espectáculos de e com artistas
brasileiros, que em muito valorizou o Festival. Prova que muitas vezes com as
contrariedades, nomeadamente de cariz orçamental segundo o Editorial do FMD,
surgem boas oportunidades de reconversão ao modelo previamente definido.
A classificação de espectáculo “à Diversos” é já uma assinatura bem
presente no léxico do público que tem assistido ao longo da existência do
festival regularmente aos espectáculos. Não devendo ser interpretada com
sentido pejorativo, mas sim de uma forma característica e idiossincrática, que
na prática resume em si uma das principais propriedades que o FMD se propôs
desde início, tornando-a já uma marca.
Na impossibilidade de abordar aqui todos os espectáculos, destacar-se-ão
alguns.
Sexta-feira, 14, 21h30min, a coreógrafa Marlene Freitas recebe-nos (literalmente) numa BlackBox completamente lotada e onde o calor se tornaria impossível de aguentar sem recurso aos leques distribuídos à entrada. Prepara-se para nos mostrar o seu “Paraíso” que passou por uma evolução coreográfica e conceptual dicotómica ao som de dinâmicas musicais controladas pela coreógrafa e com uma selecção musical cirúrgica, onde brilhou o tema “Psycho Killer” dos Talking Heads. Estava dado o mote para a 4ª edição do FMD.
Domingo, 16, na BlackBox, subiu ao palco a peça de teatro “Dulce”,
representada por 4 actores, 2 brasileiros e 2 portugueses. Uma interpretação
magnífica em que alegoricamente se representam duas sociedades tão próximas mas
simultaneamente tão distintas com recurso a lugares comuns e ao quotidiano
vulgar de dois casais que se encontram para uma refeição.
“Penthesilia” de Martim Pedroso, foi à cena no CTSP em Alcanena, no dia 21. Um espectáculo bastante aguardado e que prometia muito. Quem o viu não ficou com as expectativas goradas. Cénica e cenograficamente brilhante, um jogo de luzes impressionante, uma qualidade de representação dos 4 principais intérpretes fantástica, pese embora a barreira linguística, e um vídeo assombroso por tão envolvente. Nem as dificuldades técnicas de alguma dessincronização das legendas e dos volumes sonoros beliscaram a qualidade do espectáculo. Matim Pedroso tem sido um habitué do FMD (presente em todas as edições) e tem sido recompensador assistir à sua evolução como artista e criador. Nota final para a envolvência da comunidade local neste espectáculo.
O Teatro Virgínia acolheu mais um dos espectáculos vindos do Brasil. Foi no
dia 22 que a coreografia “Baseado em Fatos Reais” se apresentou a uma plateia
pouco preenchida. Uma abordagem a algumas danças tradicionais brasileiras
acompanhadas pela musicalidade de instrumentos típicos, fizeram deste
espectáculo um momento muito agradável. Dois pormenores fizeram a diferença: -
a captação sonora dos instrumentos estava perfeita, o que proporcionou uma
sensação de maior envolvência com o espectáculo; - a possibilidade de subir ao
palco no final do espectáculo para poder ver de perto as 1800 fotografias
utilizadas e assim perceber grande parte do que se tinha acabado de passar no
palco.
Denise Stutz, na BlackBox, com “3 Solos em 1 Tempo” desmistificou e
demonstrou como a contemporaneidade da arte, neste caso da dança, pode perfeitamente
passar pela simplicidade de conceitos e pela relação directa com o público, sem
distorções e intelectualidades.
“Branca de Neve” foi o único espectáculo que subiu ao palco do Cine Teatro
Rogério Venâncio nesta edição do FMD. Foi também o único projecto totalmente
entregue à comunidade local, optando por uma modalidade já anteriormente
utilizada no festival: “coaching” e apoio técnico garantidos pelo FMD. Não foi
por isso que deixou de ser um espectáculo com pormenores muito interessantes,
limpo, fluído, bem pensado e bem interpretado.
Com o penúltimo dia do Festival chegou aquele que, porventura, terá sido um dos melhores espectáculos da edição deste ano. Os brasileiros Foguetes Maravilha interpretaram “Ninguém falou que seria fácil” de forma soberba. Um texto genial resultou numa encenação sarcástica e labiríntica, mas simultaneamente divertida e envolvente. Contagiou o público e fez com que o sentimento, nem sempre fácil, de dominar o público se sentisse de forma clara. A ter que optar por o melhor espectáculo do FMD 2012, sem dúvida, a escolha recairia neste teatro.
Atlas, no Teatro Virgínia, dia 29, ousou transportar para o palco a partilha da experiência de vida de 100 pessoas da comunidade local (voluntários). Apesar da ideia ser engraçada, a monotonia da repetição tornou o espectáculo cansativo e após as primeiras 40 experiências partilhadas, completamente desinteressante.
Este ano a edição do FMD contou ainda com 3 concertos de música, 2 deles no improvisado palco do Museu da Aguarela Roque Gameiro, um local que de facto poderia e deveria ser muito mais utilizado para este tipo de eventos. No primeiro sábado do festival com Miúda A2 e no segundo com Noiserv. Para terminar, um concerto no Coreto de Minde dos leirienses Nice Weather for Ducks que, nos últimos temas mantiveram os sons electrizantes que caracterizam o universo musical dos seus membros e já conhecidos de projectos como Team Maria, embora não tenham tido a capacidade para agarrar um público que marcou presença e que esperava um final de festival mais marcante.
As noites do Ponto de Encontro foram um dos expoentes do FMD 2012. Mantendo
a fórmula da gestão entregue a um grupo de voluntários e optando por entregar a
DJ’s a responsabilidade de animar as noites, mais uma vez se verificou a forte
adesão da população de Minde e arredores, proporcionando um saudável encontro
de gerações e uma simbiose cultural de facto.
E porque a edição deste ano do FMD se inicia com e a falar de números termina este artigo também com alguns números. 1099 palavras, 6940 caracteres (com espaço), 5860 caracteres (sem espaços), 15 parágrafos, 11 espectáculos abordados.
E porque a edição deste ano do FMD se inicia com e a falar de números termina este artigo também com alguns números. 1099 palavras, 6940 caracteres (com espaço), 5860 caracteres (sem espaços), 15 parágrafos, 11 espectáculos abordados.
Fotos Joana Patita
já te mandei um e-mail e ao camarada chefe-presidente. lol
ResponderEliminarvê lá.
el che
Fotos fantásticas acompanhadas de um excelente texto num JM perto de si! Parabéns :)
ResponderEliminarThanks MF. Aparece sempre.
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