Depois do envio de José Sócrates para um centro de novas oportunidades em Paris e na iminência de Santana Lopes privatizar o Totobola, os sócios desta Taberna sentiram-se obrigados a tomar as rédeas do país, tendo como base de comando este espaço!

19 de novembro de 2012

Biblioteca Digital DN (5)

Quando olhei para a cronologia de contos do DN sombreei para mim uma sequência que começava com Inês Pedrosa, seguia para Afonso Cruz, Gonçalo M. Tavares, Manuel Jorge Marmelo, Mário de Carvalho, Dulce Maria Cardoso e terminava com Pedro Mexia.
Há uma outra sequência, David Machado, JP Simões e Rui Cardoso Martins, que também me desperta interesse prévio.
Mas, voltando ao primeiro conjunto que identifiquei, a expectativa era alta. E, lidos que estão 5 contos desses 5 autores, a aposta parece acertada. Logicamente a expectativa conjunta não era repartida de forma igual. Por exemplo, a expectativa pelo conto de Afonso Cruz e Manuel Jorge Marmelo era maior que a de Inês Pedrosa ou de Dulce Maria Cardoso. A valorização de cada uma das expectativas tem diversas variáveis associadas, algumas delas mensuráveis, mas quase todas elas subjectivas. Embora não importe minimamente escalpelizá-las agora.
Quero apenas referir que o autor sobre o qual recaia a minha maior expectativa, por motivos totalmente subjectivos, como por exemplo as capas e os títulos dos livros, a sensação de “compra-me que é para teu bem” que uma vez tive ao pegar num livro dele, era Manuel Jorge Marmelo.

O nono conto desta colectânea é precisamente o de Manuel Jorge Marmelo, As Saudades que tenho de Inácia. Desta vez não direi nada sobre o conto, até porque duvido muito do interesse que as coisas que digo possam ter. Quem o dirá é o próprio autor. Com frases que têm tanto de cru como de certeiro, como - “E ainda não encontrei coisa mais desigualmente distribuída do que a feiura e o seu oposto.” – ou - “Coitado de quem vem ao mundo condenado pelos pecados que não cometeu.”. Passagens em cuja ironia, apesar de presente, não se suplanta à assertividade da mensagem - “Se existisse um deus moldando as pessoas do mundo, ele seria só o mais desastrado dos oleiros.” – e com descrições que, embora conhecidas e se saibam e desejem temporais, são de uma profundidade intrigante nunca perdendo o toque de ironia - “Mas eu amava-a como suponho que se deva amar uma mulher: chegava a horas para o jantar, fazia por andar lavado, evitava beber muito grogue, entregava-lhe a féria e procurava-a na cama (pontualmente).”.
Um conto sobre pessoas, sobre vidas, sobre a coexistência entre a banalidade e a complexidade das relações, sobre consciência.
É, até agora, o melhor conto desta colecção (e não tenho qualquer receio de dar ordem às coisas), o que quer dizer que o nível claramente se elevou com as últimas publicações de contos.
E agora, se me dão licença, vou ali à Pó dos Livros comprar um livro do Manuel Jorge Marmelo e provavelmente acrescentar mais algum à minha “wish book list”. Depois logo conto como foi a experiência de ler um livro deste escritor.

A primeira dezena de contos ficou completa com A Porrada, de Mário de Carvalho. Um conto insípido, sem grande desenvolvimento e com a originalidade típica de uma fotocópia. Talvez a ideia Mário de Carvalho com este conto fosse sugerir aos leitores que vissem o “Fight Club”, que de facto é um filme fantástico e imperdível. Mas para isso teria sido preferível que o tivesse assumido em jeito de nota final ao conto, pelo menos dúvidas sobre o objectivo do conto tinham-se dissipado. Assim, não passou de uma tentativa falhada de escrever alguma coisa com interesse.

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