Acabo de ler O Rebate de J. Rentes de Carvalho, o primeiro livro que li
deste escritor português mais conhecido na Holanda que em Portugal.
Como sou seguidor do seu “Tempo Contado” e com já li várias entrevistas, a
escrita não me surpreendeu totalmente.
Não obstante, não deixa de ser, de certa forma, inesperado ver esse tipo de
escrita reflectido durante um livro inteiro. Não que isto tenha nada de mal, é
apenas uma nota.
Rentes de Carvalho pertence àquele género de escritores que “puxa” pelo
leitor, tem um vocabulário que impressiona. Obriga quem o lê a estar atento, a
estar focado e a ter que pensar para interpretar o que escreve, na forma que
escreve. A título de exemplo esta frase dita pelo próprio: “O respeito pelo
leitor implica que você não vai julgar que o leitor é estúpido porque ele não
é. […] Claro que há uns – inclusive críticos – que não serão capazes de
acompanhar, mas a culpa é deles não é minha.”.
Li recentemente “O Cemitério de Elefantes” de Dalton Trevisan, de quem
Rentes de Carvalho é confesso admirador, e de facto, há neles muitas
parecenças, na forma de escrita, na forma de começar as frases, na forma
comprimida, mas altamente eficaz, como expressam acções e vontades.
O Rebate transporta-nos para Trás-os-Montes num Portugal longínquo (será?)
anterior ao 25 de Abril. Pobre, rude e sofrível. A forma como está escrito o
livro chega a parecer-se com uma película de cinema, tão claras são as imagens,
tão reais são as personagens. Chega a haver momentos em que se sente o cheiro
da aldeia, o calor, se ouve a mula a guinchar.
É de uma simplicidade a todos os níveis notável.
Já tinha escrito algumas vezes sobre Rentes de Carvalho, tinha para com ele
uma sensação de que haveríamos de nos “conhecer” e até de nos “dar” bem. Pois
cá está, não fiquei desiludido. Seguirei atento.
Adenda:
Já depois de ter publicado o post, estava a reler uma entrevista de Rentes de Carvalho quando me deparo com esta frase:
"[...] depois veio “O Rebate” e esse era mais feito para ser um guião de filme porque é muito visual."
Confere.
Adenda:
Já depois de ter publicado o post, estava a reler uma entrevista de Rentes de Carvalho quando me deparo com esta frase:
"[...] depois veio “O Rebate” e esse era mais feito para ser um guião de filme porque é muito visual."
Confere.
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