Há uma outra sequência, David Machado, JP Simões e Rui Cardoso Martins, que
também me desperta interesse prévio.
Mas, voltando ao primeiro conjunto que identifiquei, a expectativa era
alta. E, lidos que estão 5 contos desses 5 autores, a aposta parece acertada.
Logicamente a expectativa conjunta não era repartida de forma igual. Por
exemplo, a expectativa pelo conto de Afonso Cruz e Manuel Jorge Marmelo era
maior que a de Inês Pedrosa ou de Dulce Maria Cardoso. A valorização de cada
uma das expectativas tem diversas variáveis associadas, algumas delas
mensuráveis, mas quase todas elas subjectivas. Embora não importe minimamente
escalpelizá-las agora.
Quero apenas referir que o autor sobre o qual recaia a minha maior
expectativa, por motivos totalmente subjectivos, como por exemplo as capas e os
títulos dos livros, a sensação de “compra-me que é para teu bem” que uma vez
tive ao pegar num livro dele, era Manuel Jorge Marmelo.
O nono conto desta colectânea é precisamente o de Manuel Jorge Marmelo, As
Saudades que tenho de Inácia. Desta vez não direi nada sobre o conto, até
porque duvido muito do interesse que as coisas que digo possam ter. Quem o dirá
é o próprio autor. Com frases que têm tanto de cru como de certeiro, como - “E
ainda não encontrei coisa mais desigualmente distribuída do que a feiura e o
seu oposto.” – ou - “Coitado de quem vem ao mundo condenado pelos pecados que
não cometeu.”. Passagens em cuja ironia, apesar de presente, não se suplanta à
assertividade da mensagem - “Se existisse um deus moldando as pessoas do mundo,
ele seria só o mais desastrado dos oleiros.” – e com descrições que, embora
conhecidas e se saibam e desejem temporais, são de uma profundidade intrigante
nunca perdendo o toque de ironia - “Mas eu amava-a como suponho que se deva
amar uma mulher: chegava a horas para o jantar, fazia por andar lavado, evitava
beber muito grogue, entregava-lhe a féria e procurava-a na cama
(pontualmente).”.
Um conto sobre pessoas, sobre vidas, sobre a coexistência entre a
banalidade e a complexidade das relações, sobre consciência.
É, até agora, o melhor conto desta colecção (e não tenho qualquer receio de
dar ordem às coisas), o que quer dizer que o nível claramente se elevou com as
últimas publicações de contos.
E agora, se me dão licença, vou ali à Pó dos Livros comprar um livro do
Manuel Jorge Marmelo e provavelmente acrescentar mais algum à minha “wish book
list”. Depois logo conto como foi a experiência de ler um livro deste escritor.
A primeira dezena de contos ficou completa com A Porrada, de Mário de
Carvalho. Um conto insípido, sem grande desenvolvimento e com a originalidade
típica de uma fotocópia. Talvez a ideia Mário de Carvalho com este conto fosse
sugerir aos leitores que vissem o “Fight Club”, que de facto é um filme
fantástico e imperdível. Mas para isso teria sido preferível que o tivesse assumido
em jeito de nota final ao conto, pelo menos dúvidas sobre o objectivo do conto
tinham-se dissipado. Assim, não passou de uma tentativa falhada de escrever
alguma coisa com interesse.
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